Conversando com a Base #64 – VIOLÊNCIA ANUNCIADA

As tragédias sempre colocam em foco questões que as anunciavam. A comoção pública desperta atenção para o que era invisibilizado até então. A de Suzano não foi diferente. São muitas as violências diárias nas escolas, principalmente nas públicas, que atendem aos filhos e filhas da classe trabalhadora.

Não queremos falar de psicopatas ou neuróticos. Queremos tratar da violência institucionalizada. Da violência socioeconômica que causa tragédias diárias, que culminam em chacinas como a da escola de Suzano.

Pra começo de conversa, é bom ficar evidente que a violência não está na escola. Ao contrário, ela é invadida pela violência que está na sociedade, tornando-se mais grave e mais letal a partir do momento que é instigada, publicizada e banalizada. É isto que acontece hoje no país: ódio, discriminação, preconceito, machismo. Quando alimentados, atingem, majoritariamente, a população pobre e negra, que se encontra na periferia das cidades e já enfrenta deficiência crônica de serviços e equipamentos públicos.

 

Voltemos às escolas. Elas, que deveriam ser um lugar acolhedor, de inclusão e de construção de uma sociedade mais justa e igualitária, estão sendo palco de confrontos, de rivalidades, demonstrando o caos em que a sociedade brasileira se encontra

 

Fatores como drogas e álcool, conflito entre estudantes e a falta de funcionários suficientes são causas que contribuem para a violência nas escolas. Toda a comunidade fica vulnerável, pois não tem as condições necessárias para a efetivação do real papel pedagógico a que se propõe.

 

Os/as professores/as, que deveriam ser o esteio da formação juvenil, também estão expostos a vários tipos de violência, tornam-se vítimas do sistema, tanto quanto seus estudantes. Baixos salários, péssimas condições de trabalho (salas lotadas, sem ventilação apropriada, jornada estafante, sem material didático suficiente) e retirada de direitos fazem parte de uma lista enorme de violência cotidiana. Os novos tempos trouxeram outras mazelas terríveis, que gritam por resistência: professores/as perdem a autonomia de cátedra quando  os/as estudantes são incentivados/as a filmarem as aulas. O magistério é desqualificado ou criminalizado por meio da lei da mordaça (escola sem partido), que não foi aprovada, mas, na prática, impede a liberdade de ensinar e de aprender. Trabalhar o respeito, a solidariedade, a tolerância ficou perigoso para quem se dedica ao ofício do magistério.

 

A proposta que surge é transferir a responsabilidade de educar para a polícia militar. Liberar arma para a população é outra trágica ideia. Será que a solução para a violência é incentivar a própria violência? Coibir os efeitos sem exterminar as causas, resolve? E os anos de estudos e pesquisas na universidade, não contam?

 

É tempo de cobrar ao Estado políticas públicas que diminuam as desigualdades sociais, com ações que promovam a convivência democrática na diversidade. Que a escola possa contribuir na construção de uma sociedade, que cultive valores como o respeito, a tolerância, a amorosidade entre os diferentes. O caminho é a elaboração coletiva de Projeto Político Pedagógico, com planos de convivência democrática adequados às realidades locais e regionais. Que debatam sobre as questões de gênero, contribuindo para o combate ao machismo, a LGBTfobia, a gravidez na adolescência, a violência contra a mulher, bem como o combate à intolerância religiosa e ao racismo. É fundamental a parceria entre as famílias, os movimentos sociais organizados e as comunidades escolares, aliada com uma política educacional que proporcione, aos/às professores/as, valorização profissional, com plano de cargos e carreira, formação continuada e condições de trabalho. Outras medidas podem garantir a melhoria na educação pública: exclusividade no vínculo empregatício; organização curricular democrática; redução do número de estudantes, por turmas, o que significa aumento da oferta de trabalho e melhoria na qualidade do ensino; organização escolar voltada para a vida social e para o trabalho; gestão democrática, com fortalecimento do conselho escolar e do grêmio estudantil. Sem esquecer a especial atenção para o investimento em esportes, cultura e lazer.

 

E a segurança? Controle da entrada e saída das unidades educacionais é essencial. Rondas no entorno é importante. Atuação de especialistas como psicopedagogos e psicólogos ajudam. Mas, nada melhora no interior da escola se a sociedade estiver doente. Diminuir as desigualdades econômicas, garantir a cidadania e a humanização dos indivíduos é imprescindível no combate à violência. Justiça social é a chave mestra no combate à violência, onde quer que ela esteja.

 

SINPROJA: 25 ANOS DE LUTA, EM DEFESA DA EDUCAÇÃO JABOATONENSE

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