Crise, desemprego e perda de renda fazem alunos migrarem de escola privada para a rede pública

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A perda de renda e a crise econômica que assolam o Brasil estão levando milhares de alunos a trocarem a rede privada por escolas públicas. De 2020 a 2021, quase 1 milhão de estudantes deixaram as escolas particulares. Na educação infantil, por exemplo, houve uma queda brusca no número de matrículas. Foram 600 mil cancelamentos, sendo 298 mil em creches e 308 mil na pré-escola.

“Isso tem sido um fato, a renda média das pessoas vem caindo, a renda da família vem caindo. Então, é inevitável, as pessoas vão cortar custos com educação, saúde, alimentação”, diz Fausto Augusto Junior, diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

De acordo com a pesquisa feita pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), divulgada nesta quarta-feira (10), quase metade dos brasileiros precisaram fazer serviços extras nos últimos 12 meses para complementar sua renda. Cerca de 45% dos entrevistados falaram que precisam fazer bicos, outros 33% citaram ter complementado renda com serviços de manutenção, de beleza, de segurança, de motorista, de entregas por aplicativos ou ainda com trabalhos domésticos de faxina, de babá, de aulas particulares.

Para o diretor-técnico do Dieese, a crise econômica é grave e não atinge só classe menos favorecida. “A taxa alta do desemprego está aí, na classe média alguém da família perdeu a renda. É uma crise bastante grande que também atinge a classe média”, completa Fausto.

Os números de migração de alunos da rede privada para pública fazem parte do levantamento do Censo da Educação Básica 2021, feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que revela ainda que a queda nas matrículas da escola privada foi de 17,7% no ano passado em relação a 2020, um decréscimo de 15,8% na creche e de 19,8% na pré-escola, enquanto a rede pública apresentou pequena redução de 1,5% no mesmo período (queda de 1,8% na creche e de 1,3% na pré-escola).

Migração e acolhimento
O estado do Tocantins, por exemplo, durante o ano de 2021 registrou um alto índice de migração de alunos das escolas particulares para as públicas, segundo o G1. O número de estudantes subiu de 155 mil em 2019 para 168 mil neste ano. Em Palmas, no município, eram 29 mil alunos na rede municipal em 2019. Em 2021 foi para 42 mil.

Fernando Cássio, pesquisador e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), afirma que a uma quantidade de estudantes que saem da escola privada é grande, e a escola pública tem que absorver. “A educação pública e gratuita é um direito social. Então, não importa o que acontece, mas você precisa ter vaga na rede pública para colher esses estudantes da rede privada”, diz o professor.

Piorou na pandemia

A educação, de fato, foi uns dos setores mais impactados pela pandemia de Covid-19. Famílias perderam renda, emprego, além de sofrerem com alto preço dos alimentos, e alternativa foi transferir seus filhos da escola privada para a pública.

Segundo Fausto, o país deveria aproveitar esse momento para discutir sobre a escola a importância da pública assim como fez com o SUS durante a crise sanitária. “A pandemia também alterou muita coisa da educação privada, não foi só na pública. É uma crise bastante grande, inclusive com alunos universitários que tiveram desmanche de programas como Prouni, Fies, Sisu, mas isso é outra discussão”, lembra.

De acordo com relatório produzido pelo Grupo Rabbit, consultoria de gestão escolar, com estimativa nos dados do Censo Escolar de 2018 e em pesquisa feita com mais de 1,2 mil escolas em todo o Brasil entre setembro de 2020 e março de 2021, estima-se que 2,7 milhões de estudantes tenham deixado as escolas privadas, o que representa 34% dos alunos dessas instituições de ensino.

Ainda segundo o relatório, a estimativa é que cerca de um terço dos estudantes que deixaram as instituições particulares tenha migrado para escolas públicas. Outros dois terços permanecem sem perspectiva de estudo, sendo a maioria, mais jovem.

“O empobrecimento da população causa esse tipo de efeito em tempos de crise econômica e desemprego”, lembra o professor da UFABC, que completa: “Assim como na época de prosperidade você tem uma parte da população que migra para as redes privadas, isso acontece, também, quando você tem crise econômica, daí as pessoas migram para rede pública”.

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